Na música, a tonalidade é como o alicerce das melodias e harmonias. Ela organiza as notas ao redor de uma principal, dando forma e significado às melodias e harmonias.
Neste artigo vamos entender o que é tonalidade, sua diferença do tom, passear pelos tipos, pelas funções tonais e pela modulação.
Sumário do Conteúdo
Definindo Tonalidade
Em termos simples, a tonalidade se refere à organização hierárquica das notas de uma escala musical em torno de uma nota principal, chamada de tônica.
A tonalidade é um sistema de sons construído a partir das escalas maior, menor, menor harmônica e menor melódica.
Cada grau da escala desempenha uma função na formação e progressão dos acordes.
Diferença Entre Tom e Tonalidade
O termo “tom” e “tonalidade” são frequentemente usados na música, e eles se relacionam, mas têm significados ligeiramente diferentes.
Tom
Refere-se à altura específica de uma nota musical em relação a um padrão de referência, como o padrão de afinação internacional A = 440 Hz.
Por exemplo, quando dizemos que uma música está em tom de “Dó maior“, estamos indicando que a nota Dó é o ponto central ou “tônica” da música, em torno da qual outras notas e acordes são organizados.
Já o termo “maior” se refere a escala que será utilizada para improvisar, fazer solos e outras coisas mais, que nesse exemplo seria a escala de Dó maior.
Tonalidade
Refere-se ao sistema de organização musical baseado em uma nota específica (a tônica) e nas relações de intervalo entre essa nota e as outras notas na escala.
A tonalidade determina a escala de notas que são usadas na música, se é maior, menor, etc. A escala usada influencia no sentimento, na sensação geral da música.
A confusão entre esses dois termos talvez seja causada pelo fato de falarmos sobre um tom de uma música de forma abreviada.
Por exemplo, uma música que está em “Lá maior“, não costumamos falar bem detalhado que a música está em (tom de Lá na tonalidade maior).
Geralmente falamos de forma mais simples, abreviada, (tom de Lá maior) ou (tonalidade de Lá maior).
Tipos de Tonalidades
Existem vários tipos de tonalidade, cada um com suas características únicas e aplicações. Vamos explorar os principais tipos:
Tonalidade Maior
A tonalidade maior é uma das mais comuns e reconhecíveis, caracterizada por seu som brilhante e alegre. Ela segue a estrutura intervalar de tom–tom–semitom–tom–tom–tom–semitom.
Por exemplo, a escala de Dó maior (C) é composta pelas notas C, D, E, F, G, A, B, C.
Tonalidade Menor
A tonalidade menor tem um som mais melancólico. Existem três tipos de escalas menores:
Menor Natural: Segue a estrutura tom–semitom–tom–tom–semitom–tom–tom.
Exemplo: Escala de Lá menor natural (A–B–C–D–E–F–G–A).
Menor Harmônica: Caracterizada pela sétima aumentada, criando um intervalo de um tom e meio entre a sexta e a sétima nota.
Segue o padrão de intervalos tom–semitom–tom–tom–semitom–tom e meio–semitom.
Exemplo: Escala de Lá menor harmônica (A–B–C–D–E–F–G#–A).
Menor Melódica: Ascendendo, ela tem uma sexta e sétima aumentadas, mas descendendo retorna à forma natural.
Ascendente: tom-semitom-tom-tom-tom-tom-semitom; Descendente: segue a menor natural.
Exemplo: Escala de Lá menor melódica (A-B-C-D-E-F#-G#-A ascendente; A-G-F-E-D-C-B-A descendente).
Modos Gregos
Os modos gregos são escalas derivadas da escala diatônica maior e menor, cada uma começando em um grau diferente da escala maior. Os modos são:
Jônio (Ionian): Equivalente à escala maior (C-D-E-F-G-A-B-C).
Dórico (Dorian): Começa no segundo grau da escala maior (D-E-F-G-A-B-C-D).
Frígio (Phrygian): Começa no terceiro grau (E-F-G-A-B-C-D-E).
Lídio (Lydian): Começa no quarto grau (F-G-A-B-C-D-E-F).
Mixolídio (Mixolydian): Começa no quinto grau (G-A-B-C-D-E-F-G).
Eólio (Aeolian): Equivalente à escala menor natural (A-B-C-D-E-F-G-A).
Lócrio (Locrian): Começa no sétimo grau (B-C-D-E-F-G-A-B).
Tonalidade Cromática
A tonalidade cromática é uma abordagem musical que envolve o uso extensivo da escala cromática, a qual inclui todas as doze notas da oitava, cada uma separada por um semitom.
Diferentemente das escalas diatônicas (maiores e menores), que têm sete notas e seguem uma estrutura de tons e semitons específicos, a escala cromática é composta por uma sequência contínua de doze notas, cada uma adjacente à outra.
Por exemplo, uma escala cromática ascendente a partir de Dó seria: C, C#, D, D#, E, F, F#, G, G#, A, A#, B, C.
Características e Aplicações
Falta de Hierarquia Tonal:
Na música tradicional, certas notas e acordes têm mais importância e função em relação à tônica (a nota central).No entanto, na tonalidade cromática, essa hierarquia é menos pronunciada ou até ausente, o que pode criar uma sensação de liberdade e complexidade harmônica.
As notas são tratadas de maneira mais igualitária, permitindo uma exploração sonora mais ampla e frequentemente mais dissonante.
Uso na Modulação:
A escala cromática é frequentemente usada para facilitar modulações rápidas e inesperadas entre diferentes tonalidades.Por exemplo, um compositor pode mover-se suavemente de uma para outra utilizando notas cromáticas que atuam como pontes entre as tonalidades.
Expressão Emocional:
A adição de notas cromáticas pode adicionar tensão, cor e profundidade emocional à música.Isso é especialmente útil em passagens musicais que buscam evocar emoções intensas ou complexas.
A dissonância gerada pelas notas cromáticas pode ser resolvida de várias maneiras, proporcionando um rico campo de expressão musical.
Ornamentação:
Notas cromáticas são frequentemente usadas como ornamentações ou embelezamentos.Por exemplo, em um solo de jazz, o músico pode inserir notas cromáticas para criar passagens mais interessantes e ornamentadas, muitas vezes aumentando o virtuosismo da performance.
Exploração Melódica e Harmônica:
Compositores como Franz Liszt e Richard Wagner exploraram extensivamente a tonalidade cromática para criar progressões harmônicas complexas e linhas melódicas inovadoras.No período Romântico, a cromaticidade tornou-se uma característica distintiva, permitindo a expansão das fronteiras harmônicas tradicionais.
A escala cromática é uma ferramenta que oferece aos músicos e compositores uma vasta gama de possibilidades expressivas.
Essa escala permite uma exploração mais livre e criativa das notas, resultando em obras ricas, emocionantes e inovadoras.
Seja usada para modulação, ornamentação ou para criar novas formas de expressão harmônica e melódica, a escala cromática continua a ser uma das ferramentas mais valiosas no arsenal de um músico.
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Tonalidade de Blues
A tonalidade de blues é uma abordagem musical que se baseia na escala de blues, amplamente utilizada em gêneros como blues, jazz e rock.
Essa escala é derivada da escala pentatônica menor, com a adição de uma nota extra conhecida como “blue note“. Essa nota confere à escala seu caráter único e expressivo, característico do som blues.
Estrutura da Escala de Blues
A escala de blues é composta por seis notas. No caso da escala de blues em A, essas notas são:
- A (tônica)
- C (terça menor)
- D (quarta justa)
- Eb (quarta aumentada ou quinta diminuta, a “blue note”)
- E (quinta justa)
- G (sétima menor)
Portanto, a escala de blues em Lá (A) é: A-C-D-Eb-E-G-A.
Características e Funções
A Blue Note:
A “blue note” (Eb no exemplo da escala de blues em A) é crucial para o som blues.Ela é uma nota de passagem entre a quarta justa e a quinta justa, criando uma tensão que é característica do blues.
Essa tensão e sua eventual resolução são fundamentais para a expressividade emocional da música blues.
Flexibilidade e Expressividade:
A escala de blues é altamente expressiva e permite uma flexibilidade considerável na interpretação.Músicos de blues frequentemente “dobram” ou “deslizam” até as notas, especialmente a blue note, criando nuances emocionais e variações rítmicas.
Uso em Improvisação:
No jazz e no rock, a escala de blues é uma base comum para a improvisação.Sua estrutura permite aos músicos criar solos que são ao mesmo tempo melódicos e rítmicos, utilizando a tensão e a resolução proporcionadas pela blue note para dar cor e dinamismo às suas frases musicais.
Influência na Harmonia:
A escala de blues também influencia a harmonia, particularmente nas progressões de acordes.Uma progressão de blues típica é a progressão de 12 compassos, que geralmente envolve os acordes de I, IV e V da tonalidade.
Por exemplo, em A, seria: A7 (I7), D7 (IV7) e E7 (V7). A inclusão da blue note pode ser refletida nos acordes, por exemplo, usando um acorde de Eb7 como um acorde de passagem.
A tonalidade de blues, com sua base na escala de blues, é uma das mais importantes e influentes na música moderna.
Sua capacidade de transmitir emoção através da “blue note” e sua estrutura flexível fazem dela uma ferramenta essencial para músicos de diversos gêneros.
Seja no blues, jazz ou rock, a escala de blues continua a inspirar e desafiar músicos, oferecendo um meio poderoso de expressão musical.
Tonalidade Modal e Atonalidade
Modal: Usa modos gregos como base em vez de escalas maiores ou menores, criando sons que não seguem a tonalidade tradicional.
Atonalidade: Abandona a hierarquia tonal, não tendo um centro tonal claro. Compositores como Arnold Schoenberg exploraram atonalidade, criando música onde todas as notas têm igual importância.
Cada tipo de tonalidade oferece uma variedade de sonoridades, permitindo aos compositores e músicos explorar uma diversidade de expressões musicais.
A escolha da tonalidade pode influenciar profundamente o caráter e o impacto de uma música.
Funções Tonais
Dentro de uma tonalidade, diferentes graus da escala exercem funções específicas, conhecidas como funções tonais.
A tônica é o ponto de repouso principal, conferindo estabilidade e conclusão às progressões musicais.
O quinto grau, conhecido como dominante, cria tensão e desejo de retorno à tônica.
O quarto grau, chamado subdominante, atua como uma espécie de ponto intermediário, conectando a tônica à dominante.
Na harmonia musical, os graus da escala desempenham diferentes funções, cada um contribuindo para a estrutura e a progressão das músicas.
Observe abaixo como os graus de uma escala são classificados:
Tônica (Grau I): Este grau é a base da tonalidade, proporcionando estabilidade e um senso de repouso.
Supertônica ou Sobretônica (Grau II): Localizada um tom acima da tônica, esta nota adiciona uma sensação de suavidade e preparação para a resolução.
Mediante (Grau III): Situada entre a tônica e a dominante, esta nota muitas vezes serve como ponto de transição ou modulação na música.
Subdominante (Grau IV): Proporcionando uma sensação de movimento, o grau subdominante prepara o caminho para a dominante.
Dominante (Grau V): Essencial para criar tensão e direcionamento, a dominante é frequentemente usada para conduzir de volta à tônica.
Superdominante ou Sobredominante (Grau VI): Localizada acima da dominante, esta nota pode adicionar variedade e expansão à progressão harmônica.
Subtônica ou Sensível (Grau VII): A sensível é uma nota especialmente marcante, muitas vezes usada para criar tensão que se resolve na tônica.
Tônica (Grau VIII): Este grau é uma repetição da tônica original, trazendo um senso de conclusão e encerramento à progressão.
Essas funções harmônicas dos graus da escala fornecem um mapa para os compositores explorarem e organizarem a estrutura das suas composições musicais.
Modulação
Ao longo de uma composição musical, os compositores muitas vezes mudam de tonalidade para criar variação e interesse.
Essas mudanças, chamadas de modulações, podem ser sutis ou dramáticas e são realizadas através de técnicas como o uso de acordes pivotais, que são compartilhados por duas tonalidades diferentes, ou através de progressões de acordes que gradualmente levam os ouvintes a uma nova tonalidade.
Técnicas de Modulação
Modulação por Acordes Comuns: Esta é uma técnica comum na qual a nova tonalidade compartilha um ou mais acordes com a original.
Ao usar acordes comuns como ponto de transição, a modulação pode ocorrer de forma mais suave e natural.
Modulação por Cromatismo: O cromatismo é o uso de notas fora da escala diatônica.
Ao introduzir notas cromáticas, os compositores podem criar uma sensação de tensão que pode ser resolvida na nova tonalidade.
Modulação por Dominantes Secundárias: Dominantes secundárias são acordes construídos a partir das notas da escala diatônica de uma tonalidade, mas que atuam como dominantes para acordes fora dela.
Usando dominantes secundárias, os compositores podem criar modulações mais complexas e interessantes.
Modulação por Sequências Harmônicas: As sequências harmônicas são padrões de acordes que se repetem com intervalos consistentes.
Ao usar sequências harmônicas, os compositores podem guiar os ouvintes de uma tonalidade para outra de maneira previsível e satisfatória.
A Importância da Modulação na Música
A modulação é uma ferramenta fundamental na caixa de ferramentas de compositores, arranjadores e intérpretes.
Ela permite uma exploração mais profunda das possibilidades musicais e adiciona camadas de complexidade e significado a uma música.
Além disso, a modulação pode ajudar a unificar uma composição, conectando seções diferentes e criando um senso de coesão e progressão.
Para os ouvintes, a modulação oferece uma experiência auditiva emocionante e dinâmica. Ela os leva em uma jornada musical, provocando uma série de emoções e sensações ao longo do caminho.
Ao compreender a arte da modulação, os ouvintes podem apreciar ainda mais a riqueza e a profundidade da música que estão ouvindo.
Conclusão
Na teoria musical, o conceito de tonalidade é muito mais do que uma simples organização de notas. É a essência da música tonal, permeando cada acorde e progressão com significado e intenção.
Ao compreender as funções tonais de cada grau da escala, os músicos desbloqueiam um mundo de possibilidades criativas, onde podem expressar emoções e contar histórias através das notas.
Assim, a tonalidade não apenas molda a estrutura das composições, mas também enriquece a experiência auditiva, proporcionando um caminho para a expressão artística e a conexão emocional através da música.